Complexo de vira-lata




A cada quatro anos temos, duas ondas de especialistas. De um lado, pessoas super empolgadas que, ‘parecem’ esquecer dos problemas sociais do País e entendem “tudo” de futebol, das regras de arbitragem às táticas de jogo. 
De outro, alguns que ‘parecem’ se tornar os mais politizados, esclarecidos e bem informados acerca das mesmas demandas, inclusive, com todas as soluções e que, por óbvio, dizem odiar futebol, condenar a “burrice” da massa etc.

Não acredito que as pessoas que vibram, torcem, sofrem, até passam mal com bola na trave aos 118 minutos do jogo (como foi na prorrogação de Brasil e Chile, 23 de junho) sejam menos cientes dos problemas do que eu ou qualquer outro cidadão. Entendo, apenas, que as pessoas reagem diferente a tudo.

Não assisto jogo por puro instinto de preservação. Não tenho coração de corintiano, nem tão pouco sou torcedor fluminense.
Meu contato com futebol e bola está restrito a observar um tio, Agnaldo de Carvalho, nas peladas perto da casa de minha avó, em Ilhéus/BA. Cumpria sempre a função de gandula. Em uma destas ocasiões levei uma bolada no peito que até hoje lembro a sensação. Logo, o relacionamento é traumático.
Também nunca gostei de ouvir os gemidos dos meus irmãos provocados pelas raladas homéricas que levavam em todo tipo de terreno. O que desenvolveu um espírito de preservação.

Entretanto, ao me interessar pelo resultado do jogo e o status da seleção no Mundial, não deixo de lado meu arcabouço de informação política. São interesses que apenas dividem espaço nos meus neurônios. Posso gostar de manga, sem deixar de lado o mamão.

A Copa acaba dia 13 de julho. No dia seguinte, os problemas estarão aí, tal qual estavam antes do seu começo. Será que os “super-politizados”  deste período vão manter os discursos? Teremos um engajamento à lá Lula: como-nunca-antes-na-histora-dêste-paiz? Ou voltaremos ao silêncio e apatia de sempre?

Já argumentei nesta mesma coluna que um título mundial este ano, fará com que os opositores de Dilma tenham de enfrentar uma fatia do eleitorado que vê em um título mundial a ‘solução dos seus problemas’. 
Entretanto, a ignorância de uma fatia da massa, não me credencia a ser um rabugento, ranzinza que olha para a onda amarela-e-verde e desdenha das virtudes dos próprios patrícios.

Um amigo jornalista, Conrado Guin, postou em seu mural do Facebook (sei essa de omitir o nome da rede social) a foto de um japonês que segurava um cartaz improvisado escrito o seguinte:
“Queridos amigos brasileiros, os japoneses são timidos, mas tive ocasião de conhecer e admirar seu país e sua gente, seus costumes etc. Até logo. Obrigado. Arigatô”

Diante do flagrante, Guin comentou: “Chega de viver o complexo vira-lata! Vamos aproveitar nossas qualidades, tão bem destacadas pelos ‘de fora’”.  Concordo em gênero, número e grau. 

Não perdi de vista os esqueletos que estão escondidos no armário e que só serão expostos depois de outubro ou em 2015. Não esqueci o oportunismo dos pilantras que apresentam-se como arautos de uma revolução improvável. Não me tornei cego, surdo e mudo.

Continuo vendo e ouvindo mais do que gostariam, e a Constituição continua em vigor, o que assegura-me o direito de dizer o que não está de acordo com o achismo da maioria.

Ainda assim, gosto de ver como a massa de brasileiros reage a um quase gol. Como que milhões podem gritar: “uuuuuhll” no mesmo momento. Gosto de ver as golas de camisas mordidas, os cabelos puxados e tudo o mais que só torcedor consegue fazer.

Gosto, mais ainda, de acompanhar as notícias com depoimentos de estrangeiros onde a alegria e simpatia do nosso povo são destaques para os visitantes. De fato, a Copa do Mundo rende muito assunto e muitas lições de vida. Aprender não é para quem pode, sim, para quem quer.

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