DINHEIRO VOADOR




Em tempos de Lava-Jato, e demais operações filhotes, a brasileirada está entorpecida pelas muitas versões de um mesmo fato. Afinal, a cada vez que um delator, ou melhor, colaborador premiado, conta um conto, é possível esquecer ou lembrar de algum ponto.

Que o diga a Marisa Letícia que, como defunta ainda quente, se tornou a única pessoa capaz de desvendar os mistérios de um tríplex no litoral paulista ou de um sítio cuidadosamente preparado para receber o maior larápio da história. Não sou o tipo que diviniza ninguém que morre. Mas a "pobrezinha" merecia melhor tratamento de sua memória, não é mesmo? Ainda bem que foi o próprio marido que praticou a desonra.

A derrama com dinheiro que é público, mas não infinito, sai cruzando ares ou estradas pelo País. Os encontros para as negociações consideram desde restaurantes até flats locados apenas para o fim das conclusões dos procedimentos.
Houve um tempo que uma cueca, pedaço de pano que sofre agruras, era a grande vilã por algumas patacas em valores nacionais ou estrangeiros que insistiam em ficar circulando por aí.

Agora, os recipientes de transporte das "verdinhas" incluem desde pomposas pastas, até sacolas plásticas ou envelopes amarrotados para não levantar suspeita.
Pensa que é só ladrão de galinha que se cerca do manto da noite para facilitar o serviço? Sabe nada, inocente! Os crápulas se certificam que vão conseguir se dar bem, sem levantar suspeita ou, se desconfiarem, não vão encontrar o rastro de modo explícito. É preciso levantar muitas camadas de tapete enlameado para conseguir ver a teia de caranguejeira especialmente dedicada aos brasileiros honestos.

Um fato, porém, ao qual evitam o confronto é: se o corrupto pegou dinheiro para bancar compra de votos em dia de eleição, quem foi o famigerado que vendeu? Ah! o Gasparzinho, claro! Como esquecer dele? É sempre o Gasparzinho que torra as onças com pinga, uma carne melhorzinha para um churrasco realizado logo depois de ir na seção eleitoral. Isso, claro, a bordo de algum carro que pegou em casa e devolveu o "honestíssimo eleitor" são e salvo.

Existe uma hipocrisia reinante no País de só querer apontar o dedo para o político que compra votos. De modo cínico, deixam de lado o desgraçado que vende que, para mim, o voto é tão vil quanto quem comprou. Há ainda quem defenda dizendo que a pessoa o faz porque "não tem escolha".

Mentira. Sempre há uma escolha, para o bem ou para o mal. Se ao invés de procriar em ninhada, dormir como lontra e comer como suínos esses "sem-escolha" resolvessem produzir algo para o próprio bem, o País teria melhor sorte. Enquanto isso não muda, as notas vão continuar voando em direção às mãos flácidas e bocas famintas.

 
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