Adeus, Borjão




Esta não é uma publicação que se deseja fazer. Não a programamos. Não a queremos. Mas os fatos se sucedem. A vida e a morte se combinam na escrita das nossas trajetórias individuais e coletivas.

Hoje, a melancolia, que é peculiar ao pôr-do-sol, foi acrescida pela dor da separação e homenagem derradeira ao intenso homem que foi Rogério Borges. Para mim, foi mais um fim de tarde que gostaria de esquecer, mas não vou. Ao som de um violino que enlevou o espírito dos presentes e sob a luz suave do sol de inverno, as lágrimas amargas rolavam fartamente no rosto de amigos e familiares.

O fim da tarde é um momento que, frequentemente, me faz olhar para dentro com o desejo de aprender a não esquecer de olhar para fora e para cima. Para fora, de modo a sempre lembrar que não estou só e, para cima, para não deixar de considerar Aquele de quem recebi a vida e que me pode tirá-la.

As últimas horas destes dias 7 e 8 de agosto de 2014, infelizmente, entram para a história de Campo Limpo Paulista. A cidade não se despediu apenas de um vereador. Centenas de pessoas afluíram à Casa de Leis para dar adeus a um filho obediente, marido dedicado, pai atencioso, irmão comprometido, amigo leal, líder verdadeiro, guerreiro incansável.

Por desígnios do Criador, a soma dos dias que lhe ficaram reservadas foi de apenas 16.440. Pelo espírito combativo que recebeu, foram dias, sem dúvida, intensos, bem vividos. Registrados com todos os altos e baixos que são comuns a quem não é comum. 

Os mais íntimos não contiveram as lágrimas. Os mais distantes lamentam sua partida precoce. Mesmo os que não o conheceram sabem que a cidade está sem um dos seus melhores soldados. 

Contudo, se ele tivesse o direito de falar a cada um que lamenta sua partida, acredito que seu pedido seria para ninguém abaixar a cabeça. Pelo contrário, que a ergam e abracem suas lutas de modo a não se perderem no horizonte. 

Pai, mãe, irmãos, esposa, filhos, tios, primos, sobrinhos, enfim, uma família vigorosa, unida, alegre, hoje, teve seu dia de profundo pesar, muito choro e dor. As manifestações de carinho à família e as homenagens foram materializadas em afagos, beijos carinhosos, abraços intensos e silenciosos. 

Sem saber o que dizer, pois nessas horas nunca sabemos, os amigos materializaram sua solidariedade e saudade com o envio de flores, muitas flores, e também em faixas e cartazes. Nas mensagens a expressão do desejo de não baixar a bandeira que ele hasteava, pois não era só dele, é de todos. Um grupo de amigos avisou: "Sua luta agora é nossa. Descanse em paz."

Em outra faixa consideraram: "Sua trajetória foi curta para tudo o que a cidade precisa, mas suficiente para nos ensinar a lutar sem perder a humildade e a alegria." O consolo, ainda que não pleno, foi expresso em outra faixa que afirmava: "Nos despedimos com a dor da perda, mas nos conforta saber que está junto do Criador".

Quem conviveu com Borjão vai demorar a se acostumar com sua ausência. Era um furacão. Mas, ao contrário do fenômeno da natureza, não buscava causar destruição. Gostava apenas de agregar e fazia isso com vigor. Se virava em mil para cuidar daqueles que cruzavam seu caminho. Um cordeiro para os amigos, um leão para os lobos.

Seu corpo não vai mais estar à vista dos olhos. Não mais o veremos em todo seu vigor físico, mas as lições que foram possíveis aprender com ele vão manter sua memória viva. Tenho certeza que seu exemplo será seguido por outros tantos alcançados pela semente das quais suas mãos estavam cheias: as sementes da luta.

Cumprindo o ciclo da vida, devolvemos o corpo ao pó, como o era, e sabemos que o espírito voltou para Deus, que o deu. Concluo, grato a Soberano por ter nos permitido conviver ainda que por tão pouco tempo com Rogério Borges. Minha oração é para que a família seja consolada, sua memória preservada e que sua luta prossiga, agora, por meio da união de homens e mulheres de bem.

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