Discursos clichês

'Esta cidade é uma vergonha!' Essa tem sido uma postagem que vejo em diversos grupos no Facebook. Basta o super-mega-esclarecido-e-engajado 'cidadão' estar insatisfeito, desiludido ou descartado, que a cantilena do abandono geral se instaura.

Engraçado é que boa parte destes cantadores da vergonha nunca foi a uma sessão ordinária de Câmara, nunca participou de uma audiência pública, não sabe o que significa, pregão eletrônico, tomada de preço, concorrência, acha que lei "orgânica" é qualquer coisa que não pode ser reciclada.

Via de regra, também, os esclarecidos da vez, afinal, ninguém sabe mais que eles (ainda que odeiem a leitura), abominam toda e qualquer publicação que comece com "de acordo com a lei...". Burramente, dizem que são a favor da anarquia, mas querem recorrer a representantes constituídos em um regime democrático que, embora vivam nele, desconhecem princípios elementares.

Os insatisfeitos e grandes arautos de uma revolução que eles não sabem nem qual é o caminho para se chegar nela, gostam de repetir: 'eu tenho direitos'; 'eu pago impostos!' como se mais ninguém pagasse ou tivesse direitos. Ohhhhhhhhhhhh!!!

Direitos todos têm e impostos todo mundo paga ainda que não se saiba quanto. Os paladinos da revolução sem rumo só nunca repetem a expressão: 'eu tenho deveres'. Por quê?

O Estado tem deveres? Bem, a própria Constituição Federal admite isso quando registra uma série de ações como "dever do Estado...". Logo, sob a égide da Carta Magna o Estado reconhece suas atribuições. Entretanto, há deveres bem definidos também para o cidadão e para a família. Vou citar só dois exemplos dentre centenas.

Sobre segurança, o artigo 144 afirma: "A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos". O artigo 205, define que "a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade..."

Eis aí problemas "gravíssimos": segurança como responsabilidade de todos e educação como dever da família. Uau! Não vejo ninguém repetindo isso em prosa e verso.

Os que se dizem progressistas e mais preocupados com direitos humanos que os outros retrucam: 'mas a parte mais fraca precisa de defesa para ter pleno exercício de direitos'. Não estou dizendo o contrário, só estou lembrando que há deveres que nunca são lembrados e, se colocados sobre a mesa, facilmente serão rechaçados.

A insatisfação geral, ampla e irrestrita, não é uma coisa nova. Como alguém já disse, não se protesta de agora. Os movimentos sindicais, dos sem-teto, sem terra etc não surgiram em junho de 2013.

Agora, o plus é que o modismo do "vamos gritar" ganhou status de produto midiático de grande interesse. Se tem coquetel molotov, gás lacrimogêneo, mascarado correndo de polícia e cidadãos inocentes presos no trânsito ou em casa por causa da "falta de preparo dos polícias" e, não, pelo vandalismo praticado por dezenas de meliantes, logo, a notícia é "quente" e vai despertar o gosto pelo grotesco que por sua vez vai impulsionar audiência (para rádios e TVs) e venda (para jornais e revistas).

Como toda moda, uma hora a coisa é substituída. Resta saber pelo que.

 
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