A ilusão nossa de cada dia

Entre uma discussão e outra sobre a relevância de uma audiência pública, depois de passarmos por diversas pautas, entre elas o anarquismo, um interlocutor virtual por nome Edilson Timóteo publicou o que segue: 

"A questão aqui não é o anarquismo, é o capitalismo e como isso se reflete em nossos governos e na ausência de políticas públicas com qualidade e continuidade, Campo Limpo Paulista é o nosso exemplo imediato. Já anarquismo não significa 'sem ordem', significa sem governo e sem Estado, coisas completamente diferentes e que requerem um outro tipo de homens e mulheres, que ainda não existem ou ainda são muito poucos. 

Muitos de nós se tornou cego ao somente enxergar um modo de viver em sociedade, quem tem sofrido muito com esse jeito de viver que considera normal o acúmulo e a concentração de riqueza, além da população indígena desde a falsa "descoberta" deste país, é a população pobre que paga quase todas as contas públicas e privadas. 

É uma ilusão querer consertar este sistema em que vivemos, ele não funciona se for "consertado", geralmente este discurso que se limita ao uso dos mecanismos oficiais está no que costuma-se chamar de legalismo, este discurso todo ordeiro, dentro da "ordem democrática" é o que normalmente se usa para conter a legítima necessidade de se expressar por parte da classe explorada por este mesmo sistema. 
Faz parte da condição humana manifestar-se, nunca foi preciso escrever isso para que fosse feito. O legalismo já chegou onde podia, nesta sociedade de letras mentirosas, não precisamos ignorá-lo, isso seria ingenuidade, mas jamais iremos a lugar algum se nos limitarmos somente às sessões da câmara, audiências públicas ou leis. 

É a nossa própria condição humana que nos leva além disso, não cabemos numa constituição nem num parlamentos, somos maiores, é por isso que estamos em todos os lugares, todas as casas, bairros, ruas, empregos, é por isso que algumas instituições precisam ser destruídas para que construamos outras. 

A lei e as ruas estão juntas no mesmo tempo, os homens e mulheres que as ocupam não precisar tapar os seus próprios olhos e escolher uma ou outra, estamos em todos os lugares e podemos tirar o melhor de cada um."

Minha réplica:
Somos todo iludidos. Não tome isso como pessoal. Eu, iludido, no que é definido como "legalismo". Outros até rotulam-me como reacionário ao ficar do lado das leis e não do que diz o povo. 

Se sou rotulado como iludido, posso devolver o predicado aos que me são contrários. Afinal, de acordo com a minha perspectiva, eles também estão no universo da ilusão ao acreditar em suas bandeiras quase com candura romântica e com um tom quase maniqueísta ao dizer que o mal do mundo está no Capitalismo e o solução seria... o Comunismo(?). 

Daqui a pouco, só vai faltar que se reproduza com a mesma virulência o discurso do gênio bolivariano, felizmente morto, do Hugo Chavez que em tudo via o imperialismo americano. 

Se tudo é ilusão, sigamos cada um defendendo a sua. Igualdade, liberdade e fraternidade é lema lindo para ler, estampar na sacada de casa, fazer chaveirinho, mas só, nada mais além disso. As diferenças e desigualdades nunca deixarão de existir. 

Enquanto seres pensantes e, hipoteticamente solidários, acredito que podemos amenizar a dor de quem nos cerca, por algum tempo, mas não por todo o tempo. Especialmente se o alvo do cuidado escolher a comiseração como forma de vida e, ao descobrir que é cômodo ser coitado, colocar uma mangueira e deixar de lado a sucção labial, ligar um motorzinho para cumprir à risca a lei do mínimo esforço.

Nem mesmo dentro de casa é suportável um filho, irmão, cunhado, tio que opta pelo ócio enquanto outros ralam para produzir. Não acredito que existam coitados no mundo mas, sim, acomodados. Sou favorável a ajuda humanitária em situação de guerras e conflitos. Em uma terra como o Brasil, numa cidade como Campo Limpo Paulista considerando a região que está inserida o coitadismo é somente uma expressão social e não um problema real.

Não admito o argumento da "falta de oportunidade" para adolescentes que aos 16 anos se recusam a estudar, mas não param de frequentar o boteco. O Estado não cumpriu o seu dever?

Em um exemplo bastante pontual: na região leste de Campo Limpo Paulista é possível trafegar a pé pelo intervalo de 15 minutos entre 3 escolas estaduais: Victor Geraldo Simonsen, Jd. Europa, Frei Dagoberto Romag, São José e Georgina Fortarel, no Jd. Europa.

As unidades estão lá. Os professores também estão lá, o material didático é entregue no começo do ano para que delinquentes que querem ser tratados como cidadãos decentes façam lama de papel nas portas das unidades no fim dos anos letivos. Os mesmos que reclamam da falta de coleta seletiva, são os que vão emporcalhar as ruas. 

Sair da escola sob a alegação de desestrutura familiar é cômodo demais! Uma pá e uma enxada faria tudo se reestruturar, se não na família, ao menos na minha própria vida. Não admito ter gente dizendo que adolescente não pode trabalhar antes dos 14 anos, mas pode se tornar marginal, não produzir nada e depois atribuir ao Estado o resultado da própria indolência.

Existem desequilíbrios no Capitalismo? Existem. Mas prefiro a imperfeição capitalista, à ilusão comunista. Acredito na força do trabalho e na remuneração de acordo com o ritmo de produção desde que isso não se configure como escravidão. Temos um país que poderia, sim, produzir riqueza apenas com consumo sustentável de recursos naturais, ao invés disso, apenas criamos a cultura da inveja. 

Invejamos os japoneses que mesmo depois de ficarem arrasados após a 2ª Guerra Mundial se tornou potência global. Surpreendente é observar que milhares de estrangeiros chegaram no Brasil no começo do século 20 e prosperaram mais que muitos nativos. Os japoneses estão neste grupo. 

As primeiras levas foram expostas a regimes absolutamente escravocratas. Eram privados do direito de ir e vir para trabalhar nos cafezais. Houve quem tramasse fugir. Quando, finalmente, passaram a ser tratados com o mínimo de dignidade, se dedicaram ao trabalho árduo. Viram na vastidão geográfica do país a oportunidade de produzir para si e para enviar recursos aos familiares que não puderam imigrar. Hoje, uma crise no mercado japonês pode não abalar a estrutura global, mas faz trinca ao menos o reboco. 

Invejamos os países europeus que caberiam sambando no Estado de São Paulo. Com menos terra produzem com mais qualidade que nós. Invejamos a produção desses países, mas não imitamos seu segredo: estudo, qualificação, capacitação contínua.

Por certo quem faz a leitura deste post deve interpretar que sou frio, insensível e implacável. Talvez eu tenha mesmo me tornado tudo isso. Especialmente depois que o Estado mais pobre em desenvolvimento humano do país, Alagoas, preferiu reconduzir ao Senado uma figura espúria como Renan Calheiros em detrimento da ex-senadora Heloísa Helena. 

Não gosto do que vai pela cabeça da professora. Para mim ela é uma maniqueísta, mais que ultra-marxista. Tenho medo de sua crença na expropriação e moratória como mecanismos infalíveis de gestão macro-econômica. 

Entretanto, é vergonhoso que os alagoanos virem as costas para sua imagem ilibada e endossem como representante no Senado um infame como Calheiros. A diferença moral é tão gritante que ela está elevada demais para ser comparada ao calhorda. 

Logo, se a pobreza não abandona Alagoas, o problema é menos dos políticos do que daqueles que os nomeiam como seus representantes. Afinal, a infeliz recondução foi fruto do apoio de nada menos que o asqueroso do Lula. 
Se preferem um sorriso barato de dois safados a um semblante sisudo de uma mulher que terminou o mandato de senadora e voltou para a sala da aula na Universidade Federal de Alagoas, que colham as consequências de sua infeliz opção. Cito este exemplo porque foi um dos resultados eleitorais que mais me marcou nos últimos anos.

Se o que hora publico tem um de rispidez, talvez seja resultado da dificuldade em separar a emoção da razão. Contudo, não é nada que faça-me declarar guerra. É apenas o grito abafado de um brasileiro que, literalmente, já verteu lágrimas por momentos de desencanto e absoluta descrença. 

Mas, restabelecido das tempestades emocionais, não pude agarrar-me à desilusão, sob o risco de naufragar. Então, continuo lutando e remando. Ainda que com remos talvez frágeis, mas determinado em não sucumbir.

 
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