Sobre a agressão à Dilma na abertura da Copa



Sei que há uma insatisfação no ar. Contudo, por mais fundamentado que seja um protesto, as galeras nas arquibancadas podiam gritar outras coisas além de uma sílaba tônica terminada em "u" e iniciada em "c". Poderiam dizer "não estatização"; "não censura velada"; "não corrupção".

Entretanto, tudo isso ainda seria somente mais um grito. O "grito" de verdade, que é a busca pela a alfabetização política (politização), a escolha de uma dentre as muitas bandeiras e ideologias partidárias, a condição de poder dizer que discorda de uma coisa, mas saber apontar outra ainda que não prevaleça, enfim, vaiar, como definiram é catarse, não soluciona, não muda comportamento, não aprimora mentalidade, não amplia a democracia. Pelo contrário, talvez a diminua.

Sou anti-PT convicto. Não digo o mesmo de alguns poucos petistas e mesmo esquerdistas. Não tolero em nenhum contexto os petralhistas e esquerdopatas. Sempre abominei a mania gravada no DNA do petralhismo em dizer que era contra tudo, desde sempre. E, no entanto, nunca apresentar alguma proposta de fato exequível, de resultados mensuráveis.

Entretanto, ainda que tenha prestigiado a abertura da Copa do Mundo na qualidade de presidente da República, abomino veementemente o oportunismo barato de gente de toda e qualquer classe social.

Há quem diga que só tinha A e B entre os mais de 60 mil. Discordo. A classe C podia até ser minoria, mas tenho certeza que alguns moradores da Rocinha podem ter pago ingressos com valores em torno de R$ 1.000,00 usando cartão de crédito e ainda vão "saborear" a Copa bastante tempo depois no rotativo dos mesmos.
Não consigo fazer coro de aprovação às vaias, pois era momento de simplesmente olhar para a arquibancada e ver a mulher Dilma, a brasileira Dilma, a vó Dilma, a mãe Dilma, a torcedora Dilma.

Não estou fazendo nenhuma apelação emotiva. Isso não vai mudar meu voto contra a CANDIDATA DILMA. São personalidades distintas. Papeis muito claros para mim.
Protesto por vaia é o mais tolo que se possa recorrer. É menos prejudicial ao patrimônio do que os vândalos rotulados com nome "chic" e, por vezes, protegidos veladamente pela própria presidente. De qualquer forma, minha reprovação ao vandalismo patrimonial, não me permite ser conivente com o vandalismo moral.

Quem grita palavrões em estádios deveria se mobilizar para encher sessões de Câmara, audiências públicas, disputar vaga em conselhos municipais de Saúde, Educação, Habitação, Transporte, Segurança. Deveria usar a mesma energia para agredir verbalmente, em reivindicar a aplicação de direitos coletivos e o exercício de deveres comuns a todos.

Infelizmente, não tenho dinheiro para pagar um ingresso para qualquer jogo de Copa do Mundo. E não sou nenhum integrante da classe "D" capaz de pagar parcelas a perder de vista. Apertar o bucho para mostrar luxo nunca foi minha filosofia. Contudo, se estivesse no Itaquerão naquele momento, sentiria vergonha alheia. De preto ficaria cinzento. Talvez até chorasse por sentir a concentração de vilania travestida de cidadania.

Protesto político tem hora e lugar para ser feito. Boa parte da horda que buscou agredir a presidente arrota dizendo que "detesta política". É o velho e presunçoso analfabeto político. Que diz esta asneira, mas ainda quer reivindicar alguma coisa.

Vamos em frente. Estas vaias não foram as primeiras e, infelizmente, não serão as últimas. Vamos demorar algumas décadas para aprimorar nossas formas de protesto.

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