Ser prefeito



Dicas práticas de um não especialista, mas bom observador.

A Constituição Federal expressa uma série de atribuições referentes ao exercício da função de prefeito, governador, presidente, vereador, deputado (estadual e federal) e senador. Na prática, tirando aquele palavreado rebuscado da lei, o que se espera de um prefeito no exercício de sua função?
Vou editar os pensamentos conforme eu imagino o prefeito ideal. Minha proposta é chegarmos a um "Manual Popular do Prefeito".
As expectativas são muitas, mas vamos pelas mais prosaicas até às mais complexas.

Depois de eleito, não desaparecer. Ter acessibilidade a todos os cidadãos que quiserem falar, sem ficar com capanga evitando as aproximações.

Não empregar os parentes nem de primeiro, nem segundo grau. Com isso, os de terceiro já nem dão as caras.

Ao escolher os cargos de comando, não fazê-lo por camaradagem, mas por critério técnico. Ou seja, se o melhor nome para cuidar de meio ambiente é de um partido adversário, convida a pessoa para integrar o grupo e mostra que a cidade está acima das preferências pessoais.

Além de estar sempre acessível, ter certeza que na sua ausência seus assessores serão olhos e ouvidos atentos a tudo e todos, não deixando ninguém se sentir menos importante em situação alguma.

Saber dizer "não" para o que for capricho pessoal e ter sempre o "sim" para aquilo que é do interesse coletivo.

Exemplo disso, é não nomear como secretário o sobrinho da Dona Xica só porque toma cafezinho na casa dela. ...Ver mais
Ser sincero o tempo todo, por mais desagrado que isso vá provocar. Se não é possível atender um pedido por restrições orçamentárias ou mesmo proibições da lei, é melhor desbaratar as pessoas do que ficar dizendo que "vai dar um jeito".

Um exemplo disso é usar caminhão da prefeitura, um equipamento que é de todos, para fazer carretos com mudanças de um bairro a outro só porque o vereador pediu isso ou aquilo.

No relacionamento com o Legislativo, respeitar o princípio da harmonia e independência. Vai enviar um projeto? Que envie com antecedência para que tanto os legisladores quanto a população em geral (os poucos que se interessam) possam conhecer o teor com antecedência, de modo a discutir, propor, acrescentar, tirar, enfim, exercer a "democracia" de fato, ou seja, governo do povo e para o povo.

Na pegada da sinceridade, não deixar as pessoas no vácuo. Se tem uma rua ou bairro que precisa de recapeamento e outra que precisa de asfalto, explicar que naquele momento vai priorizar o que está pior. Se não dá pra fazer, para de enrolar. Se dá pra fazer, mas não naquele momento, estude-se o caso e apresente uma meta, uma data que seja possível atender e fazer tudo e mais um pouco para que isso dê certo. Se surgir problema, basta não maquiar. A sinceridade pode até desagradar, mas não provoca dor.

Nos primeiros dias de mandato, reunir os servidores por pasta e empenhar-se por extrair deles o melhor de suas capacidades. Como fazer isso? Só pelo salário? Pode ser, mas... Tem funcionário que dá o sangue se ele/ela souber que o prefeito é capaz de dizer: 'obrigado'; 'parabéns'. Quanto aos salários, se dá pra melhorar, evitar os FG's injustos, abusivos até, é mostrar a realidade das finanças da prefeitura. Se o servidor for convencido que não dá "porque não dá" ele pode aceitar continuar ou decidir que na falta de perspectiva real vai procurar outra coisa para fazer. O que não dá para suportar é o Zequinha pedir aumento e receber não, e a Zefinha que trabalha bem menos ter mais grana, mesmo sendo uma desqualificada incompetente.

Na hora de fazer as compras (suco, livros, carros) deixar o técnico do setor conseguir a melhor relação custo-benefício sem se entrometer no processo para facilitar o trâmite ao amiguinho. É preciso estar cercado de gente com o mesmo compromisso de honrar a função. Se pedir pedágio para a instalação de uma empresa, demite sem conversa.

Não ter medo que seus auxiliares cresçam. Se tem um secretário(a), diretor(a) que tem competência administrativa e carisma com servidores e, principalmente com a população, não tente matar a pessoa no ninho. Pelo contrário, estimule. Dê mais crédito e prestígio. Isso permite que todos ganhem. Quanto à questão da vaidade política, o risco de ser substituído deve ser trabalhado, dominado e não justificar aberrações no comportamento como gestor.

Criar um dispositivo de auto-avaliação permanente. Não ter medo de ser avaliado durante o mandato. Não com sentido de visar votos, mas o crescimento como gestor e como pessoa.

Pare, de uma vez por todas, com a história de ficar tirando "lasquinha" dos contratos da Prefeitura. Essa prática de tirar x% mensalmente dos fornecedores é um atraso de vida pra todo mundo. O nome disso? Corrupção e, não, parceria de uma mão-lava-outra.

Faça visitas não programadas aos setores públicos. Privilegie aqueles de atendimento ao cidadão: UBS, secretaria de escola em dia de movimento, recepção e PS do hospital, farmácia, ambulatório, CRAS etc. Não vá para alterar a rotina. Apenas observe. Além de fazer as pessoas saberem quem é o prefeito, caso tenha algum servidor displicente, a postura talvez mude com um "choque de gestão".

Não menospreze os mecanismos de expressão popular. O advento das redes sociais não coloca a massa em um único canal, mas pulveriza mais informações. Use isso para o bem do serviço público. Negligenciar é burrice.

Sugestão encaminhada in-box sobre transporte coletivo:
Como prefeito, use as linhas de ônibus. Tem de saber quem são os fiscais tanto da Prefeitura quanto da empresa. No caso do próprio funcionário, manter link direto com o dito cujo. Como a rotina do gabinete talvez não permita atender todas as chamadas do fiscal, tenha ao menos um relatório diário do que está ocorrendo em sintonia com o diretor ou secretário da pasta.

Não trate o público em geral como idiota. Por exemplo, se vai dizer que está sem dinheiro, sustente isso e não invente de aumentar os contratos de aluguel. Lembre-se que viramos o século e não dá mais pra fazer muitas coisas às escuras.

Tenha gosto, apego, apreço, zelo, amor, paixão pelo trabalho. É preciso ser um "workalic" (viciado em trabalho). Na qualidade de prefeito, a função é integral, 24 horas por dia, 7 dias da semana, 30/31 dias do mês, 365 dias do ano, até o dia da transmissão de faixa. O relaxamento parcial só se dá quando em viagem devidamente autorizada, o vice-prefeito entra em exercício.

Assim, como prefeito, não existe turno, hora, dia, nem lugar para prestar serviço à população. Se der para sentar e almoçar, bem, se não der, come em pé mesmo.

Não invente uma história para se passar de herói. Exemplo: cancelar um evento popular, dizer que é pela segurança e depois se enrolar todo no próprio discurso.

Tome cuidado como você se reporta às manifestações populares quer sejam no mundo virtual ou no real. Chamar um grupo de mães de "meia dúzia de gatos pingados" não é inteligente.

Nunca misture o pessoal com o público. Se você está se sentindo ofendido, chateado, irritado, perseguido no âmbito pessoal, não use recursos e canais públicos para atacar seus algozes.
Considerando o infeliz vídeo divulgado pela Prefeitura no Facebook e que consta, inclusive, como "patrocinado" para maior divulgação o seu teor é demasiadamente pessoal. Pouco ou nada sobra ali de conteúdo, genuinamente, público, ou seja, do interesse da coletividade.

Ao se ocupar um cargo público, muito embora as funções sejam distintas, a figura mais preponderante é a pública. Ao aparecer em um vídeo veiculado em canal oficial da Prefeitura, quem está falando não é o José Roberto de Assis, mas o indivíduo que tem o rótulo de "Prefeito Municipal" ou "Chefe do Executivo". Esta função, ao menos dentro do período do mandato, de certa forma acaba por sobrepor-se à do cidadão comum.

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