População não pode permanecer refém




As narrativas da população acerca da sensação de insegurança nos últimos meses beiram o caos. Em 20 anos que ando por estas paragens, nunca ouvi, em Campo Limpo Paulista,  tantos relatos que expressam tensão e medo. Não é para menos. 

Os dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública comprovam o crescimento da onda de violência. Não ouso divulgar um “padrão” de atuação. Contudo, os levantamentos da Polícia Civil apontam os autores dos crimes como jovens com idades entre 16 e 25 anos, com exceção a homicídios. Relatos da população também incluem diversas abordagens efetuadas por homens a bordo de 1 ou 2 motos e armados.

Em contato com a diretora de uma instituição de ensino, apurei uma tática que parece idiota, mas se não fosse a sua sagacidade ela, seus funcionários e alunos teriam sido vítimas de menores. No meio do expediente, dois adolescentes, a bordo de uma bicicleta, tocaram a campainha alegando que queriam fazer matrícula. Ocorre, porém, que a unidade não estava com matrículas abertas.

Não satisfeitos, disseram que receberam ligação informando sobre o fornecimento de bolsas estudantis. Neste momento, a diretora confirmou que se tratava de uma armação. Primeiro, porque a escola não está com nenhuma central de telemarketing divulgando os cursos. Segundo, porque não havia nenhuma bolsa de estudo sendo sorteada.

Felizmente, neste caso, houve possibilidade de perceber a tática. Ainda que eu não esteja mais na fase de me assustar com nada, confesso que causa espanto a articulação de menores determinados a causar algum tipo de dano.

Também esta semana, conversei com uma autoridade da cidade que relatou a mudança de comportamento de seu pai. Como idoso e evangélico o vozinho gosta de frequentar tantos cultos quanto possível. 
Com isso, pode ir à igreja de domingo à domingo se tiver disponibilidade. Contudo, em função da onda de violência, está diminuindo esta frequência.

Funcionários de um estabelecimento comercial no Jardim Califórnia estão cansados das abordagens. Já estão tão rotineiras que eles começaram a ir ao trabalho portando apenas a habilitação de motorista.

Na avenida Nossa Senhora do Rosário, no Centro, os comerciantes já podem confabular como foi a abordagem dos marginais. Quais itens levaram, quanto de dinheiro estava em caixa, se foram cordiais ou brutos. Enfim, preciam aprender a rir da própria desgraça.
Convenhamos que isso não pode se manter na toada que está. Há muitas responsabilidades em diferentes níveis de governo que não estão sendo respeitadas.

Muita gente pode ser que ainda esteja alheia. Normal. Via de regra, a maioria de nós parece se importar com algo somente quando é vítima do problema. Enquanto a pimenta não arde no nosso olho, parece que no olho dos outros é refresco.

Contudo, precisamos aprimorar o que chamamos de civilidade. Não podemos tratar isso como algo banal. Não podemos achar que "tudo bem", quando um vizinho tem sua casa esvaziada.

No frigir dos ovos, somos vítimas da incompetência, falta de vontade política, desestrutura, legislação que parece proteger marginal e punir o cidadão. Entretanto, temos de tomar o protagonismo da situação. 

Não proponho que nos tornemos vilões. Seria nos rebaixarmos ao nível dos marginais de colarinho branco e dos de colarinho sujo. Minha proposta é que nos articulemos da melhor maneira possível. 
Cobrando de quem precisa sem dar trégua. Também podemos e precisamos desenvolver ações de cooperação mútua. Somente unidos podemos superar esta situação.

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