Protestar com equilíbrio é possível e necessário



É possível protestar contra a corrupção, requerer melhores serviços públicos sem, contudo, sair posando de revolucionário barato. E, pior, delinquente que não entende a diferença entre reivindicação e detonação. 

Não sou nenhum apaixonado por futebol. O último jogo da seleção brasileira que assisti foi em 1990, quando o treinador era o Sebastião Lazaroni. O jogo que me fez travar um músculo do pescoço, de tanta raiva, foi contra a famigerada Argentina contra quem o Brasil perdeu por 1 a 0. Desde então, simplesmente escolhi a apatia e o distanciamento desta modalidade esportiva. Isso, quando eu ainda ia completar 12 anos. 

Nunca assisti um mísero jogo em um estádio de futebol. O máximo que vi desta modalidade foram "peladas" que meu tio Agnaldo Matos jogava perto da casa da minha avó, no final dos anos 1980, em Ilhéus-BA. Só estive no Maracanã, em janeiro de 2000, para um evento evangélico. 

Mas, se tivesse dinheiro, pagaria, sim, para estar numa final de Copa do Mundo. Ainda mais sendo no Maracanã. Contudo, como bom membro da classe C que mantém os pés fincados no chão, não aperto o bucho para mostrar luxo. Devo respeitar, porém, quem o faça. Afinal, quem sou para arbitrar nos sonhos e projetos de quem quer que seja?

Os serviços no Brasil estão ruins? Não é a realização ou não de um PanAmericano, Copa das Confederações, Copa do Mundo, Olimpíadas ou seja lá que evento esportivo for, que vai mudar isso. Não é porque o Mentiroso de Nove Dedos, que também é surdo-mudo-cego-invisível, foi o principal pleiteador para colocar o Brasil como concorrente a sede do evento que vou, agora, simplesmente me colocar contrário por capricho.

De repente, o país está superlotado de especialistas para o uso ou não uso dos estádios de futebol. Existem deficiências previstas no pós-eventos? Reconheço que tem. E daí? Agora vai chorar por que está de pé? Se alguém roubou, já está usufruindo do dinheiro e ninguém jamais vai provar que houve o desvio. Cabe aos milhões de fiscais inquirir dos gestores responsáveis: o que vem depois? Algo é possível fazer. Só vai se perder se deixarmos.

Os serviços no Brasil podem melhorar se fomos cidadãos plenos. Isto é, não basta votar, tem de monitorar. Não basta reivindicar, tem que construir o direito junto. É exaustivo? E como. "Ser cidadão dá trabalho", como bem colocou Daniel Edelmuth, marido da deputada estadual Célia Leão.

Esta cidadania trabalhosa vai além de dizer: "eu pago impostos". Parece que só o "bunito" ou "bunita" paga, mais ninguém! Todo mundo paga, cara pálida! Cientes do montante temos em mão o carnê de IPTU e/ou de ISS. Embutidos no simplório papel higiênico há um monto de siglas que parecem código de comunicação alienígena.

Temos de trabalhar muito mais pelo país do que simplesmente pintando a cara. Esta manifestação é legítima, digo até que necessária como elemento de uma catarse. Contudo, os manifestantes já deram seu grito. Mostraram que existem. Idiotas com todo grau de demência se infiltraram para depredar, ferir, tentar macular as manifestações. Mas eles são minoria e não terão competência para fazer o que os demais (assim espero) farão. 

E o que farão? Vão monitorar, fiscalizar, rastrear, se necessário, investigar o vereador, prefeito, deputado, governador, senador. Vai, sim, dar pitaco na associação de moradores do seu bairro. Vai estar mais pronto para os pedidos de auxílio da Associação de Pais e Mestres da escola de seu filho. Quando oportuno, vai "colar" no vereador que elegeu (ou que não elegeu) e se apresentar para filiar-se ao partido dele e avisar: "tô de olho no sinhô".

Cada um no quadrado. Cada qual com sua função podemos, sim, construir. Vamos ter "pega-pra-capá". Vamos discordar, mas não vamos nos digladiar. É possível. Basta empreendermos força, não física, mas espiritual. Se quisermos, podemos usar mais a razão sem, contudo, perder a dose gentil de emoção que marca o nosso coração de homem latino-americano. 

Os jogadores da atual seleção brasileira jamais saberão do meu grito: mas, concluo deixando a eles meus parabéns. Souberam superar o clima tenso que rondou o evento aproveitando a influência dos brasileiros que cantaram o Hino Nacional em uníssono nos estádios. Ouvir esta letra, sentir a sua melodia como a voz de muitas águas é, sim, comovente, energizante, motivador. Eles capturaram isso. 

Que venha a Copa. O resultado poderá não ser tão triunfante como deste dia 30 de junho na Copa das Confederações, mas, trata-se apenas de um torneio que vai passar. O Brasil continuará aí ,continental. Seu povo continuará cheio de defeitos, repleto de virtudes. Não somos 200 milhões de torcedores (eu mesmo fico fora), mas podemos ser todos "jogadores" que não almejam troféus. A "bola" é a cidadania, as "regras" são "constitucionais", os "gols" são as conquistas sociais e o "árbitro" é a nossa consciência.

 
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